Hoje, quando a
poesia voltou, meu coração escolheu palavras. Quase uma tarde para
encontrá-las. Gastei uma quantidade de instantes selecionando-as. Eu que fiquei
vazio quando houve silêncio, me enchi do riso de poesia que volta. O barulho
causado por uma espera não cabe em versos, num só poema ou numa prosa. Esperar
é dolorido. Esperar a poesia desvia o mundo do mundo. Não aspiro a um planeta
desconhecido, não ambiciono morar no céu, nem espero o inferno, desejo um poema
novo. Com muitas palavras ou quase nenhuma. Procurei. Vasculhei músicas,
debulhei nuvens, embriaguei-me de leituras. Nenhum vento me trouxe alento. Ouvi
o silêncio transportando o meu coração para as coisas sentidas. Nada novo. Meus
sentimentos querem versos de agora. O meu passado não aclara meu amanhã. Sem
poesia, amanhece não. Páginas procuradas, reviradas como textos em correção.
Leituras escavadas como arqueólogo procurando fósseis. Ouvidos atentos como
maestro passando o som. Assim eu me encontrei quando a poesia se ausentou de
mim.