Fora dos nossos outonos, um caminho
se abriu. Nossos dias seguiam sem reparar no tempo, cuja função é passar. Mudar
a cor dos nossos pecados também é papel do tempo, mesmo nos bastando a cor da
dor. Às vezes, penso pará-lo para contemplar no inesperado um resto de primeira
vez.
A janela da
nossa percepção se fechou, fugindo dos outonos. Era preciso inventar um
atrativo. Deixar escapar o encanto é desperceber a vida que trabalha em segredo
para que a beleza floresça nos segundos. Desatentos, deixamos escapar um
sorriso que espalha cores pelo corpo.
Cabíamos em
todos os espaços, o viver revelava isso. Cada som, qualquer nota em qualquer
andamento, era a celebração dos nossos riscos. Não se vive feliz sem correr
riscos. Eu por agora corro o risco de errar as palavras, matar a frase e gerar
uma incompreensão.
As nossas
manhãs foram modificadas pelas notícias dos jornais. Dei-me um conselho: não
leia os jornais se você não está neles. Funciona, mas sinto falta de leituras.
Mesmo não querendo saber do outro, o outro já está em mim.
Grudei nas
nossas tardes alguns preceitos: caminhar pela casa com um riso no coração tendo
nos lábios um olhar de poesia.
Nossa
varanda, o sol visita todas as tardes. Espalhadas na sacada estão algumas
flores, mas gosto dos pássaros que passareiam em mim sobrevoando o meu quintal.
Seus gorjeios, seus cantos curtos, seus bateres de asas... Mesmo estando juntas,
suas asas são independentes. A noite respinga seus sinais. No horizonte a claridade
e a escuridade se ajuntam. Antes que escureça, as nossas mãos se procuram. Os
dedos se entrelaçam... Há, sim, um resto de primeira vez.