Depois
de saber que os sonhos dariam certo, caminhei pela praça com um sorriso no
coração. Claro, os meus dias andam nublados, mas não apago o meu riso que ri
porque gosta de rir. A vida bate, mas agradável está em apanhar de um pássaro.
Cheio
de tempo e pressas caminhei em direção à Biblioteca Pública. Notei que havia
pessoas paradas, conversando de pé, enquanto outras, que trocavam risos,
ocupavam os bancos. O jardineiro cumpria seus serviços do outro lado da
praça. Não pensei nas árvores, nem nos
pássaros, nem nas pessoas que ali estavam, mas cogitei a paz dos livros.
Enquanto caminhava de cabeça
baixa, senti algo batendo em mim, notifiquei.
Duas dores ameaçavam a minha
cabeça: o salário do mês e as bicadas de um pássaro que protegia o filhote. Não
sei se fui levado ou se fui bicado até a porta da biblioteca, sei apenas que
caminhei, forçado a andar de cabeça erguida, sem pensar no fim do mês. A ave
tinha toda a praça à sua disposição e preferiu o meu caminho. Rondava minha
cabeça insistentemente, me impedindo de olhar para o chão. Tive de erguer a
moral, troquei a tristeza por momentos de riso. Apanhei, mas continuo amando os
pássaros.
A volta.
Houve conflito. “Ou isto, ou
aquilo”. Quando era criança Cecília Meireles alertara em seu poema. Ou protegia
a minha cabeça das bicadas ou cuidava para que não pisasse no filhote sob meus
pés. Preferi a opção subjetiva no poema, a escolha. Escolhi fugir.
Houve luta no meu
retorno. O pássaro, no mesmo lugar,
vigiava o filhote, mas eu tinha um livro na mão. Usei-o para proteger a cabeça.
Livros são ótimos para proteger a cabeça.
Entro na sala de reunião
depois de algum tempo, a mente cheia de cenas. Não tinha mais o baixo astral de
antes, tinha risos e metáforas. Quando ‘pessoas’ não mais fazem o bem, eis que
a vida usa um pássaro para que se erga a cabeça.
“As notícias não são
agradáveis” – ouço alguém dizer – “tudo está pela metade. Essa gente quer ser
grande, mas as ideias são pequenas”.
Ouço. Nada digo. Reviro os
meus avessos e, com cara de cachorro que chegou do passeio, me assento no sofá,
querendo entender a vida que atormenta e usa humanos para provocar dor.
Alegro-me em saber: A vida bate, mas agradável está em apanhar de um pássaro.