A
gente não pensa. Mesmo quando a gente dorme, a vida é contada em segundos. E
quando acordamos?! E no instante em que somos sono e despertar, sentamos à
beira da cama e pensamos: quanto tempo falta para a hora? A hora de enfrentar o
dia, um compromisso qualquer, ou simplesmente levantamos e não queremos saber
de hora nenhuma. Mesmo sabendo, ou não sabendo, envolto em horas certas e
incertas, a vida é contada em segundos.
Em
dados momentos, não sabemos se é o tempo que nos transforma ou transformamos o
tempo. Em meio a gritos, buzinas e ritos, somos arremessados nos instantes
inesperados. Correndo de um lado a outro, como se, correndo, desapressássemos a
vida que é contada em segundos.
Houve
um tempo em que uma carta demorava um mês, uma viagem conversava com os mares e
a pressa não cabia numa prosa. Houve uma ocasião em que uma canção nos
acariciava os ouvidos e a gente esperava tanto por um disco novo. Existia um
período em que copiávamos longos textos e a nossa letra não doía. Hoje
fotografamos os quadros, nos encontramos nos e-mails. Fortalecemos os laços de
amizade no WatsApp e se algo demora, a calma se perde por segundos.
E
por lembrar-se da pressa, apertamos o tempo e aceleramos nossas artes. Nossos
olhos não demoram mais na beleza. Nem nossa inteligência busca o profundo nas
invenções. Mas como questionar a beleza, se os olhares que a interpretam são
compostos de sentimentos-instantes? A verdade é que não questionamos o que os
nossos olhos e ouvidos classificam como belo.
Não
há calma na calma.
A
vida é composta de coisas belas, feias, tolas. Sim. É feita de belezas feias e
de feiúras belas. E no instante em que nossas dores pedem alívios, nossas
alegrias pedem sorrisos. A gente se estabelece. Olhamos para trás e fixamos
repouso no que o tempo ajuntou. Selecionamos então os momentos memoráveis e com
um sorriso dizemos: como aquele tempo era bom! Como se o ontem importasse mais
que o agora e o agora, é tempo contado em segundos.
O
passado parece tão distante. Mas no momento em que o invocamos parece presente
e de tão visitado parece real. Vivemos buscando significados que intensificam
nossas alegrias para reforçar a lembrança dos nossos bons momentos.
Significamos nos instantes, sejam eles belos ou feios. E se nas significâncias
não aprendemos o valor da vida, é porque nos faltou olhar com jeito, devagar, com
delicadeza, como movemos nos segundos.
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