Um dia a gente sabe da gente, e não diz nada;
O muito saber, o pouco saber, o que são fatos.
Um dia conhecemos a gente, e não falamos nada;
Ser quando ou ser agora, ou ser depois. O que
importa é o ato.
Um dia conversamos com a gente, e não proferimos
nada;
O tempo, o momento, o que são os gestos.
Mesmo nos dias em que se aplaudem as metades,
há pessoas se dando por inteiras; os gestos viram atitudes, as atitudes viram
hábitos e os hábitos viram viver.
Um dia nos contemplamos diante dos espelhos, no
outro, nos encontramos nas vitrines. A gente troca os espelhos, se apega aos
retrovisores. Troca os silêncios, muda o vocabulário, conserta as palavras,
enfim, a gente muda. Troca de lugar, troca até de sentimentos;
Um dia estamos indo e no mesmo estamos
voltando;
Ir e vir, se desapegar dos momentos. Estar é
nunca saber-se compreender. Estando já é mover-se, mesmo que seja rumo ao nada.
Um dia esperamos nos encontrar, um dia a gente
se encontra, um dia a gente é encontro, no outro é simplesmente “um dia”.
Um dia passamos pela gente e nem sequer
olhamos, apressados, não olhamos nada. O coração anda devagar em tempos de
corpos apressados;
Um dia a gente sente falta da gente. E sentamos
com a gente, e despejamos tudo, e gritamos alto, e até chutamos nossas barracas.
Um dia queremos só a gente, da forma como
somos.
Um dia queremos ser tudo, para preencher o nada, enquanto se é tudo.