É
bizarro sentir a falta do que passou, ou do instante chamado “ainda há pouco”.
A frase: “era feliz e não sabia” é apenas uma fuga dos momentos que fazem do
“agora” uma certeza. A gente corre tanto. Inveja tanto. É difamado tanto. E tanto também é mal interpretado. Ninguém
tem paciência de compreender o outro, de olhar o outro, de escutar o outro, ou
até mesmo ser o outro. Mas vive intensamente incomodado com o outro. Ele tem,
ele possui, ele é feliz, ele é triste, ele é trabalhador, ele é preguiçoso, ele
é corrupto, ele é artista: bom, ruim, médio. O outro é. É sempre o outro. O “É”
é tão mínimo que não dá ao outro o direito de “será”.
Não
cabe dizer. Tudo bem, até existiu felicidade num “era feliz e não sabia”,
mas onde? Em qual silêncio podemos
encaixar um: “porra, sofri pra caralho”!? Se naquele tempo estávamos como
estamos agora: fugindo da infelicidade e da dor.
Olhando
o passado. Lá tudo é tão bonito.
A
gente ria. Sentávamos no chão e ríamos. Quando voltávamos para casa, a
televisão machucava nossa dor. Jogávamos bola de meia. Comprávamos fitas cassete,
usávamos roupas simples. A comida era simples (quando tinha), quando chegávamos
em casa a televisão alfinetava nossa existência.
Não
sei o que faz pensar que tudo ontem era melhor que hoje. A gente busca tanto,
espera tanto, anseia demasiadamente por um futuro melhor que atropelamos o
“agora”, e não sentimos. Até para ser feliz é doído. A felicidade incomoda.
Dizem que “Até na tristeza o inimigo se compadece, difícil é suportar a alegria
do outro”.
Talvez
hoje, estamos marcando o tempo. Nunca tiramos tantas fotos, como também nunca
esquecemos de olhá-las alguns dias depois, ou alguns dias nunca. As músicas
passam tão rápido. As amizades passam tão rápido. E assim são os sorrisos, os
amores e as verdades. Não se concertam aparelhos, não se concertam
relacionamentos. E o mais imenso, não se concertam conceitos.
Não
creio que “ontem as coisas eram melhores que hoje”. Eu não tenho mais o ontem,
eu tenho o agora. E é nesse agora que me estabeleço para dizer: porra, viver
dói pra caralho! O ontem possui a mesma beleza que busco encontrar hoje. Estou
escavando sem parar o agora, para não observar o É dos outros.
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